A fase final de uma doença oncológica constitui sempre um momento trágico para o doente e para a sua família. O acompanhamento psicológico revela-se vital para esta fase.
Constituindo uma patologia com uma enorme incidência no mundo ocidental, o cancro comporta em si a ideia do sofrimento e do fim de vida. Por melhor que o prognóstico possa ser, o diagnóstico de uma doença oncológica tende a impelir o doente e a sua família para um universo onde a esperança reside a par do medo, da dor e da angústia. E se, para parte dos doentes, a cura lhes permite uma nova confiança, para muitos outros, o irreversível da aproximação do fim, atira-os para uma espiral de tristeza, medo e desespero de onde é bastante difícil sair.
A morte nos nossos dias – sobretudo aquela que advém das doenças oncológicas –tende a ser lenta, o que reveste esta fase da vida de características novas.
- Com o cancro, a morte deixa de ser um momento mas sim um processo. Este processo acontece, amiúde, depois da ilusão da cura, depois das recidivas e após esgotadas todas as possibilidades terapêuticas, o que comporta um enorme desgaste físico e psicológico para o doente e sua família.
- O sofrimento associado ao doente terminal passa a revelar não apenas as debilidades do doente como também daqueles que se encontram à sua volta.
- Sendo certo que a maior provação é a do doente e que é nele que todas as atenções devem estar concentradas, o apoio psicológico à família não deixa de constituir uma questão fundamental. Na verdade, o estado psicológico e emocional do doente tende a espelhar o estado psicológico e emocional da família e vice versa.
- Doente e família entram, com frequência, num jogo de dissimulação da verdade que tende a sublinhar o desamparo do doente, acentuando-lhe a tristeza e a solidão. Por outro lado, após a ocorrência da morte, a família tende a lamentar aquilo que não foi falado e partilhado, o que acaba por tornar o processo de luto numa etapa ainda mais difícil de ultrapassar.
A necessidade do apoio psicológico
E se é certo que os indivíduos revelam necessidades diferentes no final da sua vida –há os que realmente preferem não conhecer a verdade do seu estado ou parecer que não conhecem a verdade do seu estado, mantendo uma certa ilusão até ao fim – são muitos os doentes que acabam por revelar necessidade de partilhar as suas preocupações, receios e angústia. Os psicólogos que acompanham os doentes em fim de vida relatam que, normalmente, a primeira necessidade dos doentes terminais é chorar. Chorar a sua tristeza, o seu desgosto. Exprimir tudo aquilo que reprimem perante a família, perante os médicos e perante os enfermeiros.
Os benefícios de uma intervenção psicológica adequada e atempada
- Permite que, em vez de se refugiarem na mentira, doente e família partilhem a experiência que estão a viver aproveitando, assim, da forma mais plena possível, o tempo que ainda têm em conjunto.
- Possibilita ao doente e família que se confrontem com as suas emoções – zangas, medos, tristeza, frustrações – trabalhando-as depois no sentido de as resolver.
- Ajuda o doente a resolver eventuais questões pendentes, o que é útil para a pacificação daquele que parte e daqueles que ficam. O doente também pode querer deixar organizadas algumas questões relativas à vida familiar ou até à vida laboral. Resolver o que está pendente ajuda o doente a dar um sentido/uma conclusão à sua vida.
Conservação dos objetivos pessoais, autoestima e autoimagem
Uma vez que, para o doente terminal, a ideia do fim surge a par com a ausência de esperança, o psicólogo tenta ajudar o doente a estabelecer objetivos possíveis e a concentrar a sua atenção naquilo que ainda pode fazer e não naquilo que já não lhe é possível concretizar.
A conservação da autoestima e da autoimagem constituem igualmente uma estratégia essencial para o suporte emocional dos doentes em fim de vida. Incentivar o doente a cuidar-se ajudando-o a manter, dentro das suas possibilidades, as suas rotinas de estética e de higiene revela-se determinante para a preservação do seu estado emocional. Tendo em conta que a noção de integridade da pessoa se encontra sempre associada à ideia da conservação do seu corpo e da sua imagem e que a fase terminal do cancro acarreta sempre uma acentuada degradação física, o incentivo a tudo aquilo que possa incrementar a noção de controlo e de dignidade é de importância vital e deve ser estimulado.
A fase terminal de uma doença oncológica é bastante desgastante não só para o doente, mas também para a família e amigos que o rodeiam. O apoio psicológico é essencial. Partilhar preocupações, receios e angústia com um psicólogo poderá permitir que tanto o doente como a família aproveitem de uma forma mais completa o tempo que ainda têm.

Conteúdo revisto
pelo Conselho Científico da AdvanceCare.
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